sábado, 16 de abril de 2011

O crime está elucidado. As relações de Wellington ainda não


Mensagens deixadas pelo maníaco que matou 12 crianças em Realengo reforçam a necessidade de descobrir os 'irmãos' com quem ele conversava

João Marcello Erthal
Foto de Wellington Menezes de Oliveira divulgada pela Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro que foi recuperada do computador da casa do assassino
Foto de Wellington Menezes de Oliveira divulgada pela Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro que foi recuperada do computador da casa do assassino (Arquivo pessoal)
Como ser solitário não é sinônimo de ser único, as conexões e inspirações que colaboraram com a mente deteriorada e diabólica do criminoso não podem ser desprezadas. E a partir deste ponto não cabe mais a resposta de que “como era louco, tudo que dizia era loucura”
Como crime de homicídio, o massacre da escola municipal Tasso da Silveira, na zona oeste do Rio, é dado como “caso encerrado”. Esse é o termo usado pelo delegado Felipe Ettore, da recém-reformulada Delegacia de Homicídios, para explicar que tecnicamente, no âmbito de sua divisão na Polícia Civil, não há mais o que fazer: estão identificadas vítimas, autores e circunstâncias da tragédia.

O melhor, no entanto, é que o encerramento do inquérito não signifique o fim da investigação – e, pelo menos por enquanto, o Departamento de Polícia Técnica parece determinado a esmiuçar a vida pregressa de Wellington Menezes de Oliveira.

O recluso criminoso gastava a maior parte de seu dia no mundo virtual. O que nos primeiros dias parecia um empecilho para o avanço da apuração, agora revela-se um facilitador. Os discos de computador, registros de internet e vídeos deixados por Wellington funcionam como uma grande documentação dos passos do autor de um crime sem precedentes na história do país.
AgOGlobo
Manoel Freitas Louvise é acusado de vender para o maníaco Wellington o revólver 38 usado para matar 12 crianças
Manoel Freitas Louvise é acusado de vender para o maníaco o revólver 38 usado para matar 12 crianças

Wellington agiu sozinho, diz a polícia. A despeito das referências desconexas sobre religião e da simpatia por fundamentalistas, não passava de um boçal que decidiu transformar uma vida de rejeição social em brutalidade.

Como ser solitário não é sinônimo de ser único, as conexões e inspirações que colaboraram com a mente deteriorada e diabólica do criminoso não podem ser desprezadas. E a partir deste ponto não cabe mais a resposta de que “como era louco, tudo que dizia era loucura”. 

Os quatro vídeos divulgados pela Seretaria de Segurança do Rio na sexta-feira confirmam uma impressão já deixada por Wellington em suas outras mensagens. Wellington se dirige a pessoas que chama de “irmãos”, fala com alguma intimidade – chega a dizer que “como vocês podem ver, estou sem barba” – e age como se estivesse dando satisfação sobre a evolução de seu ‘trabalho’.

Não há dúvida de que a mente do criminoso era habitada por seres que não são deste mundo. Mas foi nos arredores de sua vida pacata e reclusa na zona oeste que ele deixou boa parte das pistas de que havia uma matança em andamento. A começar pelas armas e munições que adquiriu.
Cecília Ritto
Os revólveres utilizados por Wellington Menezes de Oliveira no dia do massacre de Realengo
Os revólveres utilizados por Wellington Menezes de Oliveira no dia do massacre de Realengo

Como destacou a criminologista Britta Bannenberg, especialista crimes causados por atiradores, em entrevista ao site de VEJA, “todos os atiradores deram sinais de que tramavam algo e de que não estavam bem". O problema é que, no caso de Wellington, quem teve mais acesso a esses ‘sinais’ foram pessoas que estavam mais preocupadas em lucrar com o crime do que impedi-lo – e justamente por isso precisam de punição exemplar.

A começar pelo segurança Manuel Freitas Louvise, de 57 anos, preso na quinta-feira sob acusação de ter vendido para Wellington o revólver calibre 38 usado no massacre. Foi dessa arma que partiram mais de 60 tiros durante os cerca de 10 minutos de ataque. À polícia Luvise disse que vendeu a arma – que ele havia comprado legalmente – porque Wellington alegava necessidade de se proteger em Sepetiba, onde passou a morar. Como ele explica, então, a venda de 77 balas e dos recarregadores rápidos para a arma?

Luvise nunca vai admitir. Mas alguém com mínimos conhecimentos de segurança sabe que essa quantidade de munição e carregadores não são coisa de quem quer se proteger. E mais: que alguém viria a morrer.

É prematuro acreditar que Wellington – alguém que conta ter sido desprezado ao longo de toda a vida – tenha uma legião de seguidores. Mas alguém com obsessão por internet e tantas conexões – MSN, Orkut e seis endereços de e-mail, pelo que a polícia já pôde confirmar –, com planos que datam de pelo menos nove meses antes do massacre, dificilmente caminha sem deixar pegadas.


Postado Por Alair Alcântara


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Sem terremotos, encostas e rota de fuga são os perigos em Angra



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Os reatores das usinas de Angra 1 e 2 trabalham a 100% de sua capacidade. Foto: Felipe de Souza/Futura Press
Os reatores das usinas de Angra 1 e 2 trabalham a 100% de sua capacidade
Foto: Felipe de Souza/Futura Press

LUÍS BULCÃO PINHEIRO
Direto de Angra dos Reis
Após o acidente nuclear no Japão, antecedido por tremores de 9 graus na escala Richter e um tsunami devastador, as atenções brasileiras se voltam para as usinas nucleares de Angra dos Reis, no litoral sul fluminense. A comparação leva à consequente pergunta: poderia a tragédia japonesa - a primeira causada por um desastre natural - se repetir no Rio de Janeiro?
Segundo Leonam dos Santos Guimarães, representante da Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas, as chances praticamente inexistem. "O Brasil está situado sobre o centro de uma placa tectônica e não em um encontro de placas como o Japão. A probabilidade de um terremoto daquela magnitude aqui é quase nula. Além disso, as placas do oceano Atlântico se afastam e não provocam tsunamis, como ocorre com os movimentos das placas sob o Japão", explica. E, ainda assim, ele garante que as usinas são projetadas para resistir a um terremoto de 7 graus, magnitude jamais registrada no Brasil, e a ondas de até 4 m.
Além disso, Angra tem um sistema de reatores diferente dos de Fukushima. A água que move as turbinas dos reatores brasileiros é pressurizada (PWR), e a usada nos equipamentos japoneses, vaporizada. Isso significa que, em Angra, a água não entra em contato direto com o reator e fica armazenada em um circuito interno, capaz de se autorrefrigerar caso os equipamentos de emergência falhem.
Apesar de as usinas de Angra não se localizarem sobre placas tectônicas, elas estão junto a encostas, que podem deslizar. Em 1985, uma parte da encosta próxima cedeu, soterrando o laboratório de radioecologia e quase fechando as bombas que despejam a água usada no resfriamento dos circuitos fechados de Angra 1. Se o fechamento total ocorresse, poderia ter havido superaquecimento do reator. Desde então, as encostas próximas à usina passaram a ser monitoradas e a receber obras de contenção. O paredão de rochas onde se situam os depósitos de rejeitos de baixa e média atividade está protegido por redes e cabos de aço.
Perigo
Para Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace no Brasil, o perigo da energia nuclear é subestimado. "A possibilidade é sempre colocada como pequena. Mas a verdade é que todas as vezes que foi dito que o risco era minúsculo, acidentes aconteceram de forma muito mais frequente do que se previa", afirma.
Baitelo alerta que os danos de um eventual acidente nuclear podem ser muito mais graves e permanentes do que acidentes em outros tipos de usinas: "o acidente nuclear tem a perversidade de se ter que abrir mão da área afetada. As pessoas não podem retornar. Foi o que aconteceu em Chernobyl, uma cidade fantasma até hoje. Para a utilização da energia nuclear precisaríamos ter mais certeza de que o risco se aproxima de zero, pois, no caso de um acidente, os efeitos são irreversíveis".
O Greenpeace critica também o posicionamento das usinas nucleares em Angra. Para Baitelo, apesar de a área não sofrer com abalos sísmicos e ser próxima à fonte abundante de água necessária para o resfriamento dos reatores, outros aspectos foram ignorados. "Em termos geológicos, a região é inadequada. É sujeita a deslizamentos frequentes, como vimos no início de 2010. As usinas têm impactos em uma área turística densamente povoada", afirma.
Segundo o ativista, o plano de evacuação também não foi bem elaborado: "é difícil de garantir a evacuação da população que depende de uma estrada frequentemente interrompida por deslizamentos e queda de pedras. Por mais que se tenha alternativas por ar e mar, a maioria dependeria da (rodovia) Rio-Santos para sair".
Foi justamente a instabilidade das encostas da Rio-Santos a principal preocupação dos integrantes da Comissão Temporária Externa do Senado. Eles estiveram neste mês nas usinas e afirmaram a rodovia não oferece segurança como rota de escape para a população em caso de acidente nuclear. "Não há uma outra rota para evacuar a população que não seja pela BR-101. E ela vive constantemente sendo interrompida pelos desmoronamentos", disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Em março, em uma audiência pública promovida em conjunto pelas Comissões de Defesa do Meio Ambiente e de Minas e Energia da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o prefeito da cidade, Tuca Jordão (PSDB), declarou que o município do litoral sul fluminense não está preparado para enfrentar um vazamento nuclear. "A gente está muito preocupado e focado na logística e na infraestrutura que a cidade de Angra dos Reis tem", afirmou.
O prefeito disse ainda que as pessoas já estão tão condicionadas ao treinamento periódico que não dão mais atenção à sirene. O último aconteceu em 2009 e teve a participação de apenas 60 moradores. Ele sugeriu que o plano de evacuação faça parte da grade curricular de escolas a partir de 2012. "Para que as nossas crianças e jovens entendam o que é uma usina nuclear, entendam o que é preciso em um plano de evacuação, aonde eles precisam ir, qual é o ponto de encontro. Isso é muito vago", justificou.
Apesar das críticas, quem convive com a radioatividade diariamente diz não ter medo da usina. "A gente treina para lidar com qualquer tipo de situação. A confiança é total. Minha família mora aqui do lado", diz André Batalha, um dos operadores do Centro de Controle de Angra 2.
Terra
Postado Por Alair Alcântara
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Ex-alunos e voluntários pintam muro de escola em Realengo



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Cerca de 50 ex-alunos e voluntários se reuniram na manhã deste sábado para pintarem o muro da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Foto: Futura Press
Ex-alunos e voluntários pintaram o muro da Escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo
Foto: Futura Press

Um grupo de cerca de 100 voluntários, funcionários e ex-alunos pintaram o muro e reformaram as instalações da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã deste sábado.
Na parte externa da escola, o muro que era da cor verde foi pintado de branco. No interior, as salas de aulas foram reorganizadas. A manifestação terminou no fim da manhã, quando os participantes cantaram o hino da escola e deram um abraço simbólico no prédio. "As pessoas estavam reunidas com muito amor para fazer com que a volta dos alunos seja a mais tranquila possível. Viemos mudar o layout para que as lembranças não sejam fortes", disse uma voluntária.
O estudante Marcos Vinícius, 10 anos, aluno da 5ª série, afirmou que está animado com a nova arrumação do colégio. Ele estava na escola no dia do ataque, quando 12 crianças foram mortas pelo um atirador Wellington Menezes, e acha que a tragédia deve ser superada. "O passado tem que ficar para trás nas nossas mentes. Quero voltar a estudar e ter uma vida normal", disse o menino, que escapou do massacre porque a sala de aula onde estudava não foi uma das invadidas pelo matador.
Na volta às aulas, na segunda-feira, estão previstas atividades artísticas e culturais. A Secretária Municipal de Educação quer promover uma readaptação dos alunos. Durante a semana, professores e famílias de alunos foram atendidos por equipes de psicólogos.
Atentado
Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e, segundo a polícia, se suicidou logo após o atentado. O atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.
Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola quando foi acionado. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Numa carta, Wellington não deu razões para o ataque - apenas pediu perdão a Deus e que nenhuma pessoa "impura" tocasse em seu corpo.
Agência Brasil
Postado Por Alair Alcântara
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