sábado, 16 de abril de 2011

Sem terremotos, encostas e rota de fuga são os perigos em Angra



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Os reatores das usinas de Angra 1 e 2 trabalham a 100% de sua capacidade. Foto: Felipe de Souza/Futura Press
Os reatores das usinas de Angra 1 e 2 trabalham a 100% de sua capacidade
Foto: Felipe de Souza/Futura Press

LUÍS BULCÃO PINHEIRO
Direto de Angra dos Reis
Após o acidente nuclear no Japão, antecedido por tremores de 9 graus na escala Richter e um tsunami devastador, as atenções brasileiras se voltam para as usinas nucleares de Angra dos Reis, no litoral sul fluminense. A comparação leva à consequente pergunta: poderia a tragédia japonesa - a primeira causada por um desastre natural - se repetir no Rio de Janeiro?
Segundo Leonam dos Santos Guimarães, representante da Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas, as chances praticamente inexistem. "O Brasil está situado sobre o centro de uma placa tectônica e não em um encontro de placas como o Japão. A probabilidade de um terremoto daquela magnitude aqui é quase nula. Além disso, as placas do oceano Atlântico se afastam e não provocam tsunamis, como ocorre com os movimentos das placas sob o Japão", explica. E, ainda assim, ele garante que as usinas são projetadas para resistir a um terremoto de 7 graus, magnitude jamais registrada no Brasil, e a ondas de até 4 m.
Além disso, Angra tem um sistema de reatores diferente dos de Fukushima. A água que move as turbinas dos reatores brasileiros é pressurizada (PWR), e a usada nos equipamentos japoneses, vaporizada. Isso significa que, em Angra, a água não entra em contato direto com o reator e fica armazenada em um circuito interno, capaz de se autorrefrigerar caso os equipamentos de emergência falhem.
Apesar de as usinas de Angra não se localizarem sobre placas tectônicas, elas estão junto a encostas, que podem deslizar. Em 1985, uma parte da encosta próxima cedeu, soterrando o laboratório de radioecologia e quase fechando as bombas que despejam a água usada no resfriamento dos circuitos fechados de Angra 1. Se o fechamento total ocorresse, poderia ter havido superaquecimento do reator. Desde então, as encostas próximas à usina passaram a ser monitoradas e a receber obras de contenção. O paredão de rochas onde se situam os depósitos de rejeitos de baixa e média atividade está protegido por redes e cabos de aço.
Perigo
Para Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace no Brasil, o perigo da energia nuclear é subestimado. "A possibilidade é sempre colocada como pequena. Mas a verdade é que todas as vezes que foi dito que o risco era minúsculo, acidentes aconteceram de forma muito mais frequente do que se previa", afirma.
Baitelo alerta que os danos de um eventual acidente nuclear podem ser muito mais graves e permanentes do que acidentes em outros tipos de usinas: "o acidente nuclear tem a perversidade de se ter que abrir mão da área afetada. As pessoas não podem retornar. Foi o que aconteceu em Chernobyl, uma cidade fantasma até hoje. Para a utilização da energia nuclear precisaríamos ter mais certeza de que o risco se aproxima de zero, pois, no caso de um acidente, os efeitos são irreversíveis".
O Greenpeace critica também o posicionamento das usinas nucleares em Angra. Para Baitelo, apesar de a área não sofrer com abalos sísmicos e ser próxima à fonte abundante de água necessária para o resfriamento dos reatores, outros aspectos foram ignorados. "Em termos geológicos, a região é inadequada. É sujeita a deslizamentos frequentes, como vimos no início de 2010. As usinas têm impactos em uma área turística densamente povoada", afirma.
Segundo o ativista, o plano de evacuação também não foi bem elaborado: "é difícil de garantir a evacuação da população que depende de uma estrada frequentemente interrompida por deslizamentos e queda de pedras. Por mais que se tenha alternativas por ar e mar, a maioria dependeria da (rodovia) Rio-Santos para sair".
Foi justamente a instabilidade das encostas da Rio-Santos a principal preocupação dos integrantes da Comissão Temporária Externa do Senado. Eles estiveram neste mês nas usinas e afirmaram a rodovia não oferece segurança como rota de escape para a população em caso de acidente nuclear. "Não há uma outra rota para evacuar a população que não seja pela BR-101. E ela vive constantemente sendo interrompida pelos desmoronamentos", disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Em março, em uma audiência pública promovida em conjunto pelas Comissões de Defesa do Meio Ambiente e de Minas e Energia da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o prefeito da cidade, Tuca Jordão (PSDB), declarou que o município do litoral sul fluminense não está preparado para enfrentar um vazamento nuclear. "A gente está muito preocupado e focado na logística e na infraestrutura que a cidade de Angra dos Reis tem", afirmou.
O prefeito disse ainda que as pessoas já estão tão condicionadas ao treinamento periódico que não dão mais atenção à sirene. O último aconteceu em 2009 e teve a participação de apenas 60 moradores. Ele sugeriu que o plano de evacuação faça parte da grade curricular de escolas a partir de 2012. "Para que as nossas crianças e jovens entendam o que é uma usina nuclear, entendam o que é preciso em um plano de evacuação, aonde eles precisam ir, qual é o ponto de encontro. Isso é muito vago", justificou.
Apesar das críticas, quem convive com a radioatividade diariamente diz não ter medo da usina. "A gente treina para lidar com qualquer tipo de situação. A confiança é total. Minha família mora aqui do lado", diz André Batalha, um dos operadores do Centro de Controle de Angra 2.
Terra
Postado Por Alair Alcântara
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